Henrique Dolabella é economista, servidor público, gosta de viajar, adora ver o pôr do Sol na Ermida Dom Bosco e é freqüentador assíduo do bar da Embaixada Britânica. Mas tudo isso ele só menciona depois de falar de sua principal paixão: o críquete. O brasiliense é um dos 11 jogadores da seleção brasileira de críquete (sim, temos uma), o segundo esporte mais conhecido do mundo, atrás apenas do futebol. Embora ainda desconhecida no país, a modalidade de origem inglesa ganha cada vez mais forças, principalmente aqui na capital. A seleção feminina de críquete, por exemplo, é composta só de garotas brasilienses. Em entrevista à B, Henrique enumera as barreiras para o crescimento do esporte e conta que o sonho dos jogadores é disputar uma partida no gramado do Palácio da Alvorada.
B: Como surgiu a ideia de jogar críquete, um esporte tão desconhecido no Brasil?
Henrique Dolabella: Eu só comecei a jogar críquete porque morava na Inglaterra com a minha mãe. Entrei no esporte aos 12 anos e quando voltei pra Brasília vendi a ideia para alguns colegas da faculdade, todos gringos na verdade, e acabamos formando um time de expatriados.
B: Foi esse time de “forasteiros” que acabou virando a seleção brasileira de críquete?
Henrique: Um gringo deu um empurrãozinho, mas hoje a seleção é toda de brasileira. Ele ofereceu críquete como uma matéria de Educação Física na UnB e alguns gatos pingados brasileiros se interessaram pela novidade. Eles abraçaram a causa com vigor e começaram a divulgar o esporte. Tanto que hoje em Brasília já somamos cerca de 50 praticantes de críquete, sendo que uns 35 são brasileiros. Na seleção tem gente de Brasília, São Paulo, Foz do Iguaçu e Poços de Caldas. É um sinal de que o esporte está crescendo. O problema é que tem gente que entra, mas sempre tem gente que sai também, porque casa, vai morar fora, tem filho e aí precisa parar de brincar.
B: Então para vocês o críquete é uma brincadeira?
Henrique: É um hobby, ninguém vive de críquete hoje no Brasil. O problema é que o críquete não é esporte olímpico, então não tem muito incentivo do governo e ninguém trabalha exclusivamente com a modalidade. Isso acaba sendo uma barreira muito grande porque as pessoas não olham o críquete como um investimento sério.
B: Mas as competições internacionais que a seleção participa são bancadas por quem?
Henrique: Uma parte pelo Conselho Internacional de Críquete (ICC), outra pela Associação Brasileira de Críquete, que fica aqui em Brasília. Há oito anos o Conselho começou a financiar campeonatos e torneios de críquete para expandir e divulgar o esporte. Nossa seleção, inclusive, ficou em quarto na terceira divisão das Américas no torneio de 2006, quando surgimos, e ganhou o de 2009. E agora em agosto tem campeonato sul americano de críquete feminino aqui em Brasília. Todas as meninas da seleção feminina, inclusive, são brasilienses.
B: Por que tanta gente de Brasília investe no críquete?
Henrique: O bom de Brasília é que tem maluco pra tudo na cidade. Você pode praticar o que quiser aqui: corrida, bicicleta, baseball, esportes aquáticos no Lago Paranoá e, por que não, o críquete. Acho que como tem muita gente de fora, muita embaixada, isso ajuda no surgimento desses esportes mais exóticos, conhecidos mais no exterior.
B: E na prática? Brasília é uma cidade boa para se jogar críquete? 
Henrique: O críquete é um esporte que precisa de um gramado grande e uma superfície mais dura no meio. Aqui em Brasília a Esplanada dos Ministérios é nosso campo oficial. Nós sempre jogamos lá. E é legal porque atrai a atenção de muita gente, as pessoas ficam lá observando. Foi assim, inclusive, que surgiu a seleção feminina. As brasilienses ficaram curiosas, se interessaram e entraram para o esporte.
B: Mas campo profissional, tem?
Henrique: Não tem e esse é um dos grandes problemas que a gente enfrenta. O único campo profissional de críquete do Brasil hoje fica em Curitiba, onde não tem capital humano para desenvolver o esporte. As pessoas que podem alavancar a prática estão em Brasília e aqui o máximo que a gente conseguiu foi um campo no Clube Nipo, que a gente divide com o pessoal que joga baseball. Mesmo assim, temos planos de dobrar o número de praticantes no país e conseguir entrar na lei de incentivo ao esporte para tentar profissionalizar a prática.
B: E se você pudesse sonhar com um campo ideal de críquete em Brasília, onde seria? 
Henrique: Ah, em frente ao Palácio da Alvorada, com certeza. Aquele gramado seria imbatível. E o esporte também pede um cenário bonito. O críquete é uma prática campestre e bucólica, porque demora muito, uma partida pode durar até cinco dias, então precisamos de um lugar para contemplar durante o jogo. Lá seria perfeito. E a presidente Dilma poderia jogar com a gente sem problemas. Quem sabe ela não vira adepta e alavanca de vez o esporte aqui no Brasil? (risos)
FONTE: http://www.bdebrasilia.com.br/df/perfil/jogador-brasiliense-conta-tudo-sobre-a-selecao-brasileira-de-criquete